O mito de que o valor de um profissional se mede pela quantidade de tarefas que ele realiza tem levado muitos talentos ao excesso de trabalho.
"E se ninguém mais achasse que estar ocupado é ser importante?” Esta é uma das provocações do consultor londrino de liderança e negócios Greg McKeown. De acordo com ele, o mais importante é pensar em fazer melhor, não em fazer mais. Há uma lógica nessa afirmação: o excesso de tarefas e a ausência de limites prejudicam a carreira e a vida. Isso quer dizer que, quanto mais horas extras cumpridas, mais sobrecarga, menor constância, piores resultados e, claro, menos saúde.
Mas não é de hoje que o excesso de trabalho é glamourizado. Muitos profissionais sentem até certo orgulho ao dizer que mal almoçaram por causa das demandas e que passaram o fim de semana em meio a relatórios. Esse sempre foi, inclusive, um perfil típico de quem veste a camisa da empresa.
Não à toa, especialistas em carreira passaram a falar sobre produtividade tóxica, que acontece quando o profissional tem a sensação de que precisa, o tempo todo, fazer algo considerado produtivo. Isso significa, por exemplo, trabalhar mais horas do que antes, estar constantemente conectado, usar todos os períodos livres para produzir e deixar de almoçar para participar de uma reunião. Há três motivos principais por trás desse comportamento:
O primeiro é que muitas empresas reduziram seu quadro de funcionários, e os que ficaram passaram a ter mais demandas. E o mercado de trabalho ainda tem a expectativa de que o colaborador dê conta de tudo.
A segunda razão para o aumento da produtividade tóxica está relacionada ao home office. Um entendimento que passou a ser comum para parte da liderança é o de que as pessoas, por estarem em casa — sem precisar encarar as horas de trânsito, por exemplo —, devem acumular mais afazeres. Assim, o limite da vida privada se perde. Outro ponto importante é que, sem o contato pessoal, as pessoas perderam o retorno imediato do líder sobre suas atividades.
O terceiro motivador do mito da produtividade é que aprendemos desde pequenos que o trabalho intenso é o segredo do bom resultado.
Segurança psicológica
Alterar esse cenário exige uma mudança de cultura. É preciso tornar o ambiente corporativo propício à segurança psicológica dos funcionários. “Assim como as empresas e pessoas resguardam a segurança física, com a adesão dos equipamentos de proteção individual (EPIs), precisamos hoje de defensores da saúde mental”, diz Izabella Camargo, jornalista especialista em saúde mental.
Portanto, é fundamental pensar em quais são os EPIs do bem-estar emocional. E as respostas para algumas destas perguntas podem ajudar a estabelecê-los: estamos sobrecarregando alguns profissionais? Existe, durante o expediente, um intervalo para as pessoas se recomporem, ou a agenda está tomada por reuniões e demandas? Os líderes costumam recompensar quem produz melhor, ou quem produz mais?
Uma empresa que coloca o foco no “quanto”, e não no “como”, valoriza, reconhece e estimula apenas a busca por resultados.
Quem dá o tom das condutas praticadas numa empresa são os líderes e a alta gestão. Se a relação deles com as equipes estiver desalinhada e não for baseada na confiança, comportamentos como a produtividade tóxica vão surgir.
“A falta de empatia com o time e um relacionamento pautado apenas pelo comando e controle estimulam os excessos”, afirma Irene Azevedo, diretora de transição de carreira da consultoria LHH. Para ela, o preparo da liderança é essencial. “Os gestores precisam saber o impacto que causam na equipe”, diz.
Fonte: VocêRH.