Grande maioria das empresas brasileiras (95%) avaliou que "Ética e futuro do trabalho" é a tendência mais importante no mundo pós-pandemia.
Inteligência Artificial (IA) e robótica eram termos que costumavam aparecer em primeiro plano quando o assunto era Indústria 4.0 e o futuro do trabalho. A nova realidade, ocasionada pela Covid-19, criou a urgência da reinvenção desse cenário. E, embora as organizações tenham dobrado os investimentos em tecnologia na última década, muitas têm investido significativamente pouco em como os humanos podem se adaptar e adotar novas maneiras de trabalhar.
Esse descompasso é um entre os diversos focos abordados na pesquisa da Deloitte “Tendências Globais de Capital Humano 2020 – A empresa social em ação: o paradoxo como um caminho a seguir”.
Segundo o relatório, o redesenho de tarefas para integrar a inteligência artificial é o maior gargalo para Brasil e América Latina. Já globalmente, o desafio é a criação e preservação do conhecimento da força de trabalho.
Na publicação de 2020 foram ouvidos cerca de 9 mil respondentes, em 119 países. No Brasil, o estudo contou com 296 participantes, de diversos setores, e o país ocupou o 8º lugar no ranking global e 2º da América Latina.
“Com o início da Covid-19, as organizações líderes tiveram que tomar ações imediatas em reação à pandemia, como a mudança para o trabalho remoto e virtual e a implementação de novas formas de trabalhar e redirecionar a força de trabalho em atividades críticas. É o momento em que se deve pensar em como sustentar essas ações, incorporando-as às culturas organizacionais e ao DNA das empresas”, avalia Roberta Yoshida, da Deloitte Brasil.
No levantamento nacional, as principais tendências apontadas foram a “Ética e futuro do trabalho”, com 95%; “Promover um sentimento de pertencimento aos funcionários”, com 93%, e “Forças de trabalho multigeracionais”, com 91% — diferente da ordem global, em que se destacou, respectivamente, “Bem-estar do trabalhador e sua importância para os negócios” (80%), “Promover um sentimento de pertencimento aos funcionários” (79%) e “Criando e preservando o conhecimento da forças de trabalho” (75%).
Bem-estar dos funcionários
Embora historicamente as organizações sejam responsáveis apenas pela segurança dos trabalhadores, quase todos os entrevistados — 96% (ranking global e brasil) — dizem que o bem-estar é uma responsabilidade organizacional.
Apesar de 91% dos entrevistados brasileiros o identificarem como uma prioridade importante ou muito importante para o sucesso de sua organização, 64% não estão medindo o impacto do bem-estar no desempenho organizacional. As empresas brasileiras enxergam que, em ordem de relevância, quem deve exercer esse papel é: RH, líderes de departamento, C-Suite, gerentes da linha de frente e trabalhadores individuais.
Convergência de seres humanos e tecnologia
O redesenho de tarefas para integrar a tecnologia de IA ficou em 10º lugar, assim como no recorte total da América Latina e Global, com 87%. Somente 14% dos entrevistados estão realizando investimentos significativos em novas habilidades para apoiar sua estratégia de IA, com apenas 9% utilizando-a primeiramente para substituir trabalhadores.
“Esses números afirmam ainda mais a valorização da especialização e proximidade dos funcionários às organizações.”, aponta Yoshida.
Para encontrar o potencial por meio da convergência de seres humanos e tecnologia é preciso avaliar como a organização está obtendo acesso aos recursos destinados a isso. Destacam-se recursos como: Trabalhos que exigem habilidades limitadas para executar operações baseadas em tarefas – via terceirização, no Brasil (50%) e contratação, para as empresas globais (38%); e Empregos que exigem novas capacidades técnicas profundas – via requalificação, no Brasil (50%) e, para o Global, via contratação (55%).
Com a rápida integração da IA, os trabalhadores enfrentam novas realidades de como poder trabalhar em conjunto com a tecnologia para trazer o melhor um para o outro.
Preocupações éticas relacionadas à tecnologia e a força de trabalho alternativa
Os líderes devem iniciar e liderar o diálogo sobre preocupações éticas relacionadas à tecnologia e a força de trabalho alternativa. Uma grande maioria (97%) dos participantes, no Brasil, acredita que existem preocupações éticas relacionadas ao futuro do trabalho, incluindo a manutenção da privacidade, o controle dos dados dos trabalhadores e o tratamento de trabalhadores com contratações alternativas.
Cerca de 23% dos entrevistados dizem que suas organizações possuem políticas e líderes claros para gerenciar a ética no contexto do futuro do trabalho. Embora 77% não estejam considerando isso, começam a desenvolver sua abordagem ou a lidar com ela de forma objetiva.
As organizações podem estar deixando de reconhecer a importância de trabalhadores com diferentes modalidades de contratação, mesmo quando esse segmento da força de trabalho cresce rapidamente. Das cinco megatendências para 2030, essa é a menos importante tanto para o Brasil como para o Global.
A capacidade de explorar efetivamente a força de trabalho alternativa pode ajudar as organizações a acessar recursos escassos nas mudanças rápidas nos mercados de trabalho.
O relatório de Tendências Globais de Capital Humano deste ano revelou que os entrevistados acreditam que algumas brechas geracionais se tornarão menos pronunciadas nos próximos três anos (visões sobre flexibilidade no trabalho/vida, expectativas de lealdade/segurança no trabalho e expectativas de progresso), enquanto outras se tornarão mais pronunciadas (grau de conhecimento de tecnologia, agilidade para mudar de papéis e expectativas de impacto social).
Fonte: Melhor Gestão de Pessoas