A prática como estratégia de engajamento não está associada a grandes ações de marketing, mas ao reconhecimento de pequenas atitudes na empresa.
“A vida começa quando o trabalho termina”. Por muito tempo, essa frase representou a relação das pessoas com o trabalho, caracterizado por um ambiente que não tinha espaço para as emoções e o prazer. Contudo, o trabalho mudou. Tanto que, ao longo das últimas décadas, o valor gerado deixou de estar associado à força e passou a ser associado ao conhecimento¹. Nesse processo, as habilidades socioemocionais, a criatividade e a flexibilidade passaram a ser vistas como cruciais para profissionais e empresas que almejam se manter competitivos. Em paralelo, conforme o conhecimento e a tecnologia avançaram, os processos de customização ganharam cada vez mais espaço em nossas vidas, mobilizando um discurso que passou a girar ao redor da busca por autenticidade. E é justamente nesse contexto que, não coincidentemente, a busca pelo propósito ganhou relevância.
Gosto de trazer essa perspectiva para reforçar a visão de que o propósito não se trata de um simples “modismo”, algo que irá passar em breve. Mais do que um discurso de marketing, o propósito é um elemento central da nova Economia de Transformação² e impacta diretamente a relação das marcas com todos os seus stakeholders, sejam eles clientes, parceiros, sejam colaboradores. Empresas que possuem um propósito claro são mais lucrativas, possuem times mais engajados, são melhores em atrair e reter talentos, e são descritas como mais inovadoras³. O que não falta atualmente são evidências do impacto dessa estratégia para as empresas, mas por onde começar?
A palavra-chave aqui é conexão! Descrito muitas vezes como razão de existir, aquilo que dá sentido à vida e algo maior do que a própria existência, o propósito é um tipo de motivação intrínseca, associado ao senso de pertencimento do indivíduo com a comunidade. Como animais sociais, pertencer a um grupo é fundamental, e isso impacta diretamente aspectos importantes ligados à nossa saúde e bem-estar.
Qual o melhor caminho para promover essa conexão entre as pessoas e as empresas?
Comece identificando com clareza seus valores e propósito de marca. Em seguida, faça uma autocrítica: Esses valores são vividos como parte da cultura da empresa? A liderança representa esses valores em suas atitudes cotidianas? Como já sabemos, aqui a prática é mais importante do que o discurso, como estratégia de comunicação.
Tendo essa visão clara, o segundo passo consiste em criar estratégias de comunicação internas capazes de representar o seu propósito e valores organizacionais. Aqui, esteja atento também às iniciativas que são antagônicas ao seu propósito — talvez valha a pena revê-las! Esse movimento, quando bem feito, pode inclusive embasar ações de comunicação externas, ajudando na atração de talentos e no relacionamento com os clientes.
Agora chegou a hora de conectar seus colaboradores a esse movimento. Esse papel será da liderança, por isso, é fundamental que sejam feitos investimentos para prepará-los para exercer a função. A liderança deve ter clareza do propósito e dos valores da organização que representa e para que sua mensagem seja convincente, deve sentir-se ela mesma, conectada a esse propósito.
Como líder, periodicamente, dedique-se a explicar para sua equipe a importância do trabalho que desenvolvem. Traga respostas para os seguintes questionamentos: Qual a visão da organização? Por que o que fazem nesta área é tão importante? Como cada colaborador contribui diretamente para atingir esses objetivos? Ao ser capaz de passar por todos esses pontos, a liderança consegue conectar cada indivíduo à visão e ao propósito da organização, dando sentido ao trabalho que é desenvolvido por todos, independente de cargo ou função. Essa prática promove a conexão, favorece o senso de pertencimento e permite aos colaboradores se conectarem com o propósito organizacional.
Vejam que o propósito como estratégia de engajamento não está associado necessariamente a grandes investimentos ou ações de marketing, mas sim ao reconhecimento de pequenas atitudes e iniciativas que compõem o cotidiano de uma organização. É justamente através desse movimento que trabalhamos de forma consistente a mensagem principal que queremos passar e consolidamos o propósito como parte da cultura organizacional. A representação adequada desses valores permitirá aflorar naturalmente o senso de comunidade e pertencimento daqueles que atuam em nome da empresa todos os dias.
Se você está na dúvida se sua empresa tem ou não um propósito, acredite que há sempre algo a ser trabalhado. O propósito representa a identidade de um grupo e está ligado à sua própria trajetória. Mesmo empresas com um propósito semelhante podem viver esse propósito de formas distintas, o que lhe confere autenticidade.
Mas atenção, ter um propósito não significa que não haverá dias difíceis e tarefas chatas a serem cumpridas. Lembre-se também que a nossa relação com o propósito organizacional não deve anular outros interesses que vão além do trabalho. Por isso, invista sempre na orientação dos colaboradores para que saibam criar limites saudáveis em sua rotina.
Pouco a pouco nos afastamos de uma relação utilitarista com o trabalho, onde exercemos uma função apenas em troca de uma remuneração. As pessoas hoje buscam uma ligação mais autêntica e significativa com o trabalho, na qual podem se conectar no nível mais pessoal e, ao fazê-lo, passam por um verdadeiro sentido de transformação.
(Fonte: Melhor RH)