Primeiro painel do 2º Fórum Melhor RH Felicidade Corporativa trata do papel das lideranças na promoção de bem-estar na organização, ao lado das metas de produtividade. Afinal, os gestores precisam servir de exemplo sobre aquilo que eles promovem?
Márcio Harff, Gerente de Planejamento e Estratégia do Grupo PRO e Founder da FAS T&D; Marcio Marega, Especialista em saúde e Bem-estar / Coordenador de Unidade externa de Ensino no Einstein e Conselheiro e Head de conteúdo na Humana Academy, e Waldyr Soares, Fundador e CEO da Humana Academy, tentam responder a essa e outras questões sobre o tema.
Harff inicia a discussão citando um estudo de Sonja Lyubomirsky, pesquisadora norte-americana da felicidade, que concluiu, em 2005, que ser feliz no trabalho tem a ver com um bem-estar que precede a atuação corporativa. Em metanálises diversas e outras pesquisas emergentes foi possível verificar, em 2018, que essa conclusão segue atual. O executivo menciona estudos de Harvard que detectaram como alicerce de ambiente corporativo saudável a segurança psicológica, com uma colaboração significativa do líder nesse cenário.
Ele pontua que a percepção da felicidade é subjetiva e as definições são muitas, mas que o líder pode congregar conhecimentos daquilo que é capaz de promover felicidade e trabalhar com seus liderados. Cita novamente Lyubomirsky, que define felicidade como a soma de momentos agradáveis e senso de propósito como um caminho para o diálogo sobre o tema nas empresas. Entre os elementos comprovadamente capazes de promovê-la, o executivo menciona “autonomia, senso de pertencimento, propósito, o equilíbrio entre habilidades e desafios”.
Descompasso entre academia e organização
Com base na existência desses conhecimentos sobre o tema, Harff questiona: “por que razão, mesmo com tantas descobertas científicas, seguimos com uma escalada de ocorrências em saúde mental nas empresas?” Os gestores desconhecem as pesquisas ou conhecem e têm, talvez, pouca habilidade para colocar em prática aquilo que elas pregam? Ou teriam conhecimento, habilidade e encontrariam poucas ferramentas ou um ambiente resistente para que possam fazer tudo acontecer?
Em sentido horário: Marcio Marega, Especialista em saúde e Bem-estar / Coordenador de Unidade externa de Ensino no Einstein e Conselheiro e Head de conteúdo na Humana Academy, Waldyr Soares, Fundador e CEO da Humana Academy, e Márcio Harff, Gerente de Planejamento e Estratégia do Grupo PRO e Founder da FAS T&D.
Soares introduz sua resposta, lembrando que a busca humana pela felicidade apenas muda de cenário, até os dias de hoje, quando ele considera que sejam tempos mais difíceis para lograr sucesso em encontrá-la – ou melhor, construí-la, pois, como o executivo lembra, felicidade é uma construção. E que tem sido feita com elementos que não condizem com o que a felicidade, de fato, representa: a base em consumo, posses, discursos que não postos em prática.
Em sua trajetória profissional, ele recorda que bens materiais, cargos e posição social não lhe fizeram feliz. Teve um diagnóstico de síndrome do pânico quando ainda não se falava no assunto, há mais de 40 anos. E hoje, octagenário, ele se sente mais pleno como empreendedor de uma startup e com uma vida mais simples, fora dos estereótipos daquilo que é considerado felicidade na sociedade. “Minha felicidade só não é completa porque ainda há muitas pessoas infelizes no mundo”, destaca, aconselhando que, sempre que possível, é necessário fazer algo para mudar essa realidade.
No âmbito das empresas, Soares comenta a adesão geral ao discurso do negócio com “propósito” como base para equipes felizes, o que ele teme não ser verdadeiro nas organizações. Para o executivo, ele nem seria necessário – o objetivo, segundo ele, “pode ser o lucro, desde que de alguma forma isso impacte a vida das pessoas”. O propósito deveria existir na prática, para além de um discurso ensaiado com “media training” entre os executivos.
Pessoal e profissional, indissociáveis
“A Ciência cada vez mais mostra que é impossível dissociar a pessoa física da jurídica quando o assunto é felicidade”, destaca, por sua vez, Marega. “O fato é que vivemos hoje no mundo das aparências”, pontua, também, o executivo, sobre o que estaria no cerne da discussão sobre ser feliz na vida ou no trabalho.
Estaríamos vivendo a “sociedade do espetáculo”, menciona, sobre fala do escritor Mario Vargas Llosa, remetendo à superficialidade que se tornou o cotidiano. “Estamos numa época de muitas vivências e registros. Mas tudo aquilo que cria consistência, experiência, fica no segundo plano”, diz Marega, lembrando que é preciso experiência para a construção da felicidade.
O executivo cita o princípio de felicidade eudaimônica, baseada no exercício de hábitos e virtudes, consistentemente, como caminho para ser feliz (algo pregado pela Psicologia Positiva, movimento cunhado por Martin Seligman, que propõe a felicidade como um balanço positivo da vida, em que viver com propósito facilitaria essa percepção positiva sobre a própria trajetória).
Marega afirma que líderes devem buscar a mesma consistência, buscar a autocompaixão e, sobretudo, e então, cuidar de seus colaboradores. Lembra que a felicidade é uma construção diária, e finaliza: “muito mais do que ser feliz, a líder precisa gostar de gestão de pessoas”.
Fonte: Melhor RH.