Na economia que surge é preciso ser mais protagonista e vencer o desafio de “sair da caixa”.
No cenário da pandemia, a área de recursos humanos vai lidando com mudanças dentro e fora das empresas. No contexto econômico, ganha relevância, até por uma necessidade das organizações, a gestão de custos. Isso implica um novo olhar e postura do profissional de RH em relação ao que vinha sendo feito presencialmente e que, agora, mostra-se tão efetivo quanto no mundo virtual. Mas não são apenas os treinamentos e reuniões via plataformas digitais que ilustram o novo modelo de interação entre empresas e colaboradores. Outras transformações vêm a reboque e demandam uma atenção redobrada por parte dos líderes e de recursos humanos.
Como destaca Milena Almeida, Gerente Sênior de Recursos Humanos da Oracle Brasil, o atual cenário traz um grande impacto na motivação e engajamento tanto dos profissionais mais seniores quanto os mais jovens. No primeiro caso, a atenção volta-se para um público pouco habituado com o home office e esperançoso de voltar a uma situação pré-covid-19 que, certamente, não mais existira. No outro, com os tais nativos digitais, a questão é manter o relacionamento menos robotizado.
São desafios que colocam para a área de recursos humanos um papel de protagonista, demandando de seus profissionais competências cada vez mais importantes como empatia, relacionamento interpessoal e comunicação assertiva – sem esquecer o cuidado com a tecnologia, uma ferramenta importante e estratégica. “O perfil da pessoa de RH deverá ser conectado ao que acontece ao redor do mundo, e não somente a sua área de atuação”, acrescenta Milena. Ou seja, o RH, de fato, ganha o mundo.
Como será, ou já é, a nova economia depois deste período?
A nova economia diz respeito à gestão de custos. Muitas atividades, tais como reuniões e treinamentos, que eram feitas de forma presencial, estão se mostrando eficientes no mundo virtual. O desafio é manter a motivação e gerenciar os custos ao mesmo tempo. Muitas empresas, por exemplo, estão descontinuando o aluguel de escritórios, pois já não faz sentido ter um espaço presencial e todos funcionários no mesmo ambiente. Isso impacta positivamente a redução de custos ao passo que a integração e a colaboração entre áreas pode diminuir em alguns níveis. Por outro lado, o jeito de trabalhar também já está diferente. Chegamos a um modelo de trabalho híbrido ou com maior parte em home office para empresas que conseguiram se ajustar a essa realidade.
E quais são os impactos desse cenário quando o assunto é a gestão de pessoas de uma empresa?
Pensando neste momento e como será o mundo corporativo, nossos maiores impactos na gestão de pessoas são, por exemplo, junto aos funcionários mais experientes, que vivenciaram o trabalho presencial a maior parte de suas carreiras, manter o engajamento e ajudar na mudança de pensamento sobre o home office. É preciso manter a motivação desses colaboradores, pois o trabalho remoto não era rotineiro em seu cotidiano. Neste momento, eles se veem nessa realidade, esperando a normalização. Assim, cria-se uma expectativa de retorno, quando não se sabe ainda quando esse retorno acontecerá. É necessário trabalhar esse conceito agora, pois a frustração e a desmotivação serão maiores. Outro ponto é manter as relações empáticas e próximas, pois o convívio é crucial para o relacionamento e para a construção de elos e de confiança. As análises de pessoas serão mais desafiantes com a distância. Para os mais jovens que estão acostumados com um modelo mais tecnológico e menos próximo, haverá o impacto de como criar uma relação saudável, menos robotizada, na qual as identificações de suas necessidades e expectativas também podem não ser percebidas. Para a Oracle, temos um misto de pessoas que ajudam a equilibrar e estão habituadas a ambos estilos de trabalho. Nosso maior foco é em ser transparente sobre a gestão e, principalmente, com a integridade das pessoas.
O desafio [de RH] é reaprender, ressignificar e criar maneiras de gestão de pessoas, seja pela tecnologia ou pela mudança de expectativa.
Nessas mudanças todas pelas quais passam as organizações, quais são os riscos com os quais a área de RH terá mais contato ou demandarão mais cuidados dela?
A área de RH precisa estar atenta para não perder o foco nas pessoas devido às mudanças, seja por excesso ou falta de cuidado e/ou implementação de novas tecnologias. É preciso ter um cuidado redobrado em recrutamento e seleção com informações advindas apenas por recursos tecnológicos (por exemplo, informações falsas devido à digitalização de documentos) e ao risco de segurança em receber e manter a informação. Além disso, os processos de compliance e de operações precisam atingir integralmente a organização, não somente em termos de comunicação. Como o distanciamento físico aumenta, é uma oportunidade para manter a comunicação com áreas de suporte. Outro ponto de atenção é a interação das pessoas das próprias linhas de negócios. Estar trabalhando com equipes remotas pode impactar a produtividade de forma diferente em cada linha, seja em vendas, implantações ou suporte.
Parceria, empatia e resiliência são as palavras de ordem dessa nova economia?
Sim, mas acompanhadas de outras também, como adaptabilidade, flexibilidade e gestão, já que a qualificação dos executivos e gerentes sêniores também precisa ser reciclada de forma mais periódica com as novas necessidades do momento.
E como fica a tecnologia nessa nova economia? Como ela pode ajudar o RH a dar as respostas necessárias?
A tecnologia é sempre o meio para realizarmos nossos projetos profissionais e pessoais. Ela é, sem dúvida, um dos recursos mais importantes que manterá as empresas atualizadas e inseridas no mercado – além de contribuir com o modo de trabalho. Ela ajudará com atividades de análise de dados, que dará um norte para o planejamento de acordo com as informações apresentadas (melhores resultados são atingidos com os dados corretos). Também vai contribuir no desenvolvimento a longa distância de um modelo mais flexível e criará um ambiente mais privado e cômodo para os funcionários. Além disso, encontros, reuniões e treinamentos virtuais serão cada vez mais constantes; por isso, é necessário ter as ferramentas adequadas.
Como vê a área de RH daqui para a frente?
Nosso desafio é reaprender, ressignificar e criar maneiras de gestão de pessoas, seja pela tecnologia ou pela mudança de expectativas. O mais importante é que o RH esteja atento com as transformações rápidas. Trabalhar e acompanhar a diversidade será também uma grande mudança, pois como já não existirá mais a limitação de mobilidade, será possível atingir profissionais de quaisquer classes sociais, universidades e históricos. Entendo que essa é uma mudança extremamente positiva, já que pessoas com experiências diversas podem trazer contribuições aos negócios diferentes das do passado. E esse é mais um processo de aprendizagem.
Essa é a grande oportunidade do Rh: aderir aos recursos tecnológicos para análise, acompanhamento e feedback ajudará no avanço na gestão de pessoas
E no que se refere aos profissionais de RH: qual o perfil, quais as competências vão se sobressair?
São muitas as que esse profissional precisa ter, mas as principais são empatia, relacionamento interpessoal e comunicação assertiva. Conectar-se de forma mais empática com a saúde física e mental dos profissionais é fundamental, já que nem todos estão habituados a buscar ajuda de maneira menos física. O perfil da pessoa de RH deverá ser conectado ao que acontece ao redor do mundo, e não somente a sua área de atuação. Com o alcance que a tecnologia nos permite, é preciso conhecer diferentes realidades para ser mais empático. A comunicação com diferentes profissionais da empresa também deve ser levada em conta para replicar melhores práticas e não ser somente um executor. Jamais pode perder de vista que somos uma empresa de resultados, sem deixar de lado a resiliência e a empatia. Por fim, deverá também ser focado em resultados mensuráveis para poder falar de igual para igual com as áreas de negócio. A área de recursos humanos deve ser parte da companhia e não somente suporte.
Voltando à tecnologia: de forma geral, como vê o RH inserido nesse processo de transformação digital? Protagonista ou não?
Essa é a grande oportunidade do RH: aderir aos recursos tecnológicos para análise, acompanhamento e feedback ajudará no avanço na gestão de pessoas. Por isso, a área deve ser protagonista, pois o foco em pessoas é essencial para o sucesso da empresa.
Além disso, é preciso estar comprometido com o resultado da companhia, fazendo com que a área seja protagonista na transformação das pessoas em termos de capacitação, com um olhar diverso, alinhado às práticas entre gestão e funcionário. (Gumae Carvalho)
Fonte: Melhor Gestão de Pessoas por Milena Almeida